WNBA e movimento LGBTQIA+: o que as mulheres nos ensinam
A liga de basquete feminino americana tem muito mais a ensinar do que apenas a gostar do esporte

Quase como uma continuação do meu post anterior sobre representatividade LGBTQIA+ na NBA, o assunto se estende para a WNBA. No entanto, diante de todos os fatos que rodeiam o mundo esportivo feminino, a ideia aqui é outra. Ao longo da história, as mulheres sempre estiveram em posição inferior aos homens e inúmeras vezes mostraram que isso nunca foi uma realidade.
Eu explico: ao passo que nos proibiram de fazer coisas, demonstramos cada vez mais capacidade para realizar. Foi assim com descobertas científicas, medicinais, entre outras situações que mudaram o mundo. Dessa forma, as mulheres se mostraram importantes na música, no cinema, na arte em geral e… nos esportes. No entanto, assim como todas as realizações citadas, o reconhecimento pelo talento e pelo que é nunca existiu.
Isso todo ocorre em decorrência do machismo enraizado na sociedade, o grande problema que diz que mulher não pode jogar ou falar de basquete, por exemplo. Mais cedo, repercuti no Área Restritiva uma campanha organizada por meninas apaixonadas por basquete para ajudar a LBF a crescer no Twitter [leia aqui]. É claro que a busca pela valorização do basquete feminino e outros esportes também praticados por mulheres é mais do que uma campanha como essa, mas o passo é extremamente importante. A vontade de lutar por uma causa mostra que de sexo frágil as mulheres não tem nada. O viés do post é exatamente esse: a coragem feminina. Um debate muito especial surgiu durante os protestos contra o assassinato de George Floyd em 25 de maio: qual o poder das figuras esportivas fora de quadra? É possível ser ídolo para o esporte e pela sociedade?
WNBA E MOVIMENTO LGBTQIA+
Se alguns atletas do gênero masculino muitas vezes omitem sua voz a respeito de causas sociais e injustiças, é possível dizer que as mulheres de vários esportes são exemplos de como enfrentar isso. De peito aberto, muitas jogadoras da liga feminina de basquete americana (WNBA) demonstraram apoio à causa, sejam elas héteros ou de outra orientação sexual. Em 2014, a liga fundou a campanha WNBA Pride, voltada exclusivamente para o movimento LGBTQIA+ e acolhimento.
Esse apoio é uma das principais diferenças de tratamento em relação aos esportes masculinos, onde qualquer coisa que não faça jus ao heterossexualismo pode ser facilmente ofendida. O ativismo das garotas e da WNBA tem atingido a comunidade LGBT, a comunidade basqueteira e feminina, impactando positivamente e lutando abertamente por respeito e progresso. E, com isso, veio também a própria aceitação das atletas e, claro, a inspiração para quem se vê representada por elas. Sue Wicks, Sue Bird, DeWanna Bonner, Elena Delle Donne, Brittney Griner, Candice Dupree, Angel McCoughtry, Diana Taurasi, Seimone Augustus, Alexandria Quigley, Courtney Vandersloot, Brian January e Courtney Williams são alguns dos melhores exemplos que um fã de basquete poderia ter.
SUE WICKS
A primeira atleta da WNBA a se assumir homossexual foi Sue Wicks, do New York Liberty. Em 2002, durante uma coletiva de imprensa, um repórter da Time Out New York perguntou, sem rodeios, sobre a orientação sexual de Sue: “você é gay?”. A MVP de 2001, então, respondeu da mesma maneira seca com que ele perguntou: “Sim”. A época não era nem de longe “propícia” para a declaração, mas ela foi madura e segura o suficiente para encarar de frente e proporcionar um novo terreno para as futuras estrelas serem quem são.
BRITTNEY GRINER
Talvez a maior inspiração que podemos ter no esporte em relação à causa LGBT, Brittney Griner surgiu como uma luz para quem não queria mais esconder seu verdadeiro eu. Brittney chegou à WNBA em 2013 e seu impacto foi imediato. Ao mesmo tempo que mostrava seu talento em quadra, a atleta se viu imensamente feliz em chegar ao profissionalismo e poder se abrir quanto à sua sexualidade. No entanto, ela batalhou e venceu muitas guerras consigo mesma e com seus antigos colegas não só por homofobia, como também por racismo, tendo até mesmo pensado em suicídio. Todas essas situações, então, fizeram de Griner a definição de mulher forte, aquela que luta pelo que acredita e inspira outras mulheres.
SUE BIRD
Uma das principais atletas da história da WNBA, Sue Bird foi inspirada por Brittney Griner a se assumir. A namorada da jogadora de futebol Megan Rapinoe, uma das principais ativistas LGBT do esporte geral, tinha 37 anos quando contou ao mundo sobre sexualidade. Em entrevistas, ela fez questão de deixar claro a influência de sua colega de WNBA.
OUTROS EXEMPLOS
Elena Delle Donne revelou sua orientação sexual um pouco antes das Olimpíadas do Rio 2016. Ela deu uma entrevista à revista Vogue onde declarou abertamente ser lésbica e que estava noiva de Amanda Clifton. Também em 2017, Diana Taurasi deixou claro sua sexualidade quando veio a público o seu casamento com Penny Taylor, com quem tem um filho e luta pelos direitos LGBTQIA+ e das mulheres. Além delas, DeWanna Bonner é casada com Candice Dupree desde 2016.
LAYSHIA CLARENDON
Há ainda atletas que quebram mais barreiras do que imaginam, caso de Layshia Clarendon. A jogadora do New York Liberty é uma pessoa que se identifica como não-binária, ou seja, não possuí rótulos de gênero. Numa busca por representatividade, ela é fundamental para acolher ainda mais pessoas da comunidade e falar sobre isso.
O QUE A WNBA PODE CONTINUAR FAZENDO POR ESSAS MULHERES?
E, assim como outras causas e movimentos sociais, não é necessário fazer parte da comunidade LGBTQIA+ para apoiar. Proprietárias e general managers de equipes, atletas, patrocinadores, entre outras pessoas que se identificam como heterossexuais também tem seu papel nisso tudo: o da educação. A estrela Breanna Stewart leiloou pares de tênis para beneficiar as vítimas do massacre da boate Pulse, voltada ao público LGBT, em 2016, por exemplo, e cobrou para fazerem mais do que isso.
No entanto, a WNBA deu respostas rasas sobre seu pedido e viu as próprias atletas estamparem movimentos em suas camisas, sendo o principal deles o Black Lives Matter. Olhando assim, então, é possível perceber que a liga dá um passo devagar de cada vez, e é aí que as mulheres de fato são enxergadas. Isso porque, o resultado dessa pressão foi que liga entendeu (ou está entendendo) a necessidade de também se posicionar sobre violência policial e racismo.
Todas essas mulheres ajudaram, a princípio, a espalhar a causa de uma forma que elas se sentiam bem. Jogar basquete não é apenas entrar em uma quadra e bater bola, é também usar sua voz e seus interesses para mudar o mundo. A maneira como cada uma lida com sua sexualidade e com a política da WNBA inspira outras mulheres de outros esportes também, pois a luta feminina existe em todos os aspectos. Essas atletas demonstram a força que o passado renegou, mostram que podem tudo. Dessa forma, um outro patamar é atingido sem que elas perceberam exatamente o que está acontecendo. E, nessa história só há vencedores.
“Ler o que as pessoas dizem de mim faz com que eu queira ser eu ainda mais.” — Brittney Griner
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**esse post foi publicado originalmente por mim no site Área Restritiva eme 08 de julho de 2020, hoje sem atribuição meu nome.